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Alienação Sazonal #AS1CONCESSÃO ≠ CONSCIENTIZAÇÃOA importância da comunidade LGBTQIAP+ na luta contra a constante alienaçãopromovida pela classe dominanteGeórgia Moraes/Câmara dos Deputados

Escrito por Douglaz Manoel Silveira em 30 de junho

Foi-se o tempo em que apenas respeitar mesmo sem concordar bastava. Não só se tratando de direitos LGBGTQIAP+, mas também sobre outros temas como aborto, racismo e drogas. Essa sutil narrativa resumida em “não precisa concordar, basta respeitar” foi construindo um ambiente de concessão mascarado de consenso. A ideia de “ser aceito” na sociedade fez com que pessoas que não se enquadram nos padrões
heteronormativos pré estabelecidos buscassem uma validação sobre seus corpos, sentimentos, posicionamentos e até sobre os espaços em que poderiam frequentar e como deveriam se comportar nesses determinados espaços. Essa necessidade de validação contribuiu para o fortalecimento de grupos que se sentiam no direito de aprovar ou reprovar condutas. Como em todo modelo de dominação, grupos com valores em comum se unem a fim de exercer a manutenção do poder que detém. A classe dominada, por sua vez, recua diante das investidas da classe dominante.

O Brasil é o país que mais mata LGBTQIAP+

Há mais de 40 anos apurando dados sobre violências motivadas por orientação sexual e identidade de gênero, o Grupo Gay da Bahia atua para que os registros levantados sejam munição para a formação de políticas públicas que visem atenuar e zerar os números de mortes de pessoas LGBTQIAP+. Os últimos dados divulgados pelo grupo apontaram uma morte de pessoas LGBTQIAP+ a cada 34 horas em 2023. Segundo o
levantamento do GGB, só em 2023 foram 257 assassinatos. Desse total, 127 foram pessoas trans (travestis e transgêneros), 118 homens gays, nove lésbicas e três pessoas bissexuais. Esses números mostram que “apenas respeitar” não tem sido o suficiente; é preciso não matar. Além disso, trazem um alerta importante: é mais que urgente que grupos de minorias ocupem os espaços de poder.

Esse recorte apresentado pelo Grupo Gay da Bahia, reflete uma realidade muito mais próxima do que a gente imagina. O conservadorismo no Brasil tem crescido significativamente, ocupando cada vez mais espaços e promovendo uma agenda que suprime direitos e garantias de maneira retrógrada e escancarada. Principal precursora deste movimento, a extrema-direita brasileira têm encontrado maneiras de manter
enraizado na estrutura social vigente, preconceitos que levam à restrição de direitos fundamentais. Em nome de um falso moralismo, manipulam as massas sob a égide de um fundamentalismo que rompe com a Dignidade da Pessoa Humana ao segregar, machucar e depois matar. Descredibilizar instituições como a imprensa, o Poder judiciário e organizações independentes, são ferramentas utilizadas pela extrema-direita para mobilizar seguidores. Isto porque ao desmoralizar esses institutos, atrai para si a atenção da opinião pública dotada de senso comum, fazendo com que haja uma sensação epidémica de desconfiança, de modo que eles sintam-se apenas seguros com as informações produzidas por seus “salvadores”, promovendo-os aos mais elevados espaços de poder.

Poder de concessão

Como consequência desse movimento que inicialmente parecia sutil e agora atua com voracidade, evidencia-se o fenômeno do poder de concessão. O poder de concessão é uma das ferramentas do exercício de dominação. Basicamente, a classe dominante decide o que é aceitável ou não. Essa concessão, porém, pode variar de acordo com os desejos de quem exerce o domínio. Isso está diretamente relacionado à comunidade LGBGTQIAP+ quando sua mobilização ameaça a manutenção do status quo. Para não perder o domínio, os detentores de poder fazem concessões ao passo que avançam com a agenda da extrema-direita. A exemplo disso, vemos grandes marcas mobilizarem seu departamento de marketing nos meses de visibilidade LGBTQIAP+, transformando toda a luta de um movimento em mero produto. Isso faz com que se crie em boa parte da opinião pública uma espécie de aceitação. Porém, quando acaba o “mês gay” muitas dessas grandes marcas voltam a fazer o que fazem durante todo o ano; excluir e inviabilizar espaços e oportunidades.

Cria-se portanto uma falsa perspectiva de conscientização. Isso porque, como dito anteriormente, o poder de concessão acompanha os desejos daqueles que dominam.
Não há verdadeiramente uma consciência sobre os direitos das minorias, mas sim uma mera adaptação de produtos para atrair uma parcela da sociedade, assim como no Dia dos Namorados, Natal e outras datas criadas para vender mais. Pessoas LGBTQIAP+ passaram a sair do armário, mas ocuparam as vitrines.

Urgente dominação dos espaços de poder A real necessidade em ocupar os espaços de poder, deve superar os encantos capitalistas e ser antagônica às narrativas conservadoras e fundamentalistas. Não se pode deixar levar por um arco-íris em um rótulo de um produto produzido por pessoas que sequer possuem condições de adquiri-lo. É preciso conscientização para que as concessões sejam feitas por quem hoje figura como elo hipossuficiente nas relações sociais. Para tanto, é necessário e urgente dominar os espaços de poder. É preciso superar o discurso “vocês podem ser gays, desde que não fiquem se beijando no shopping”. São narrativas como essa que tentam reduzir a importância de toda uma luta por direitos e dignidade. Os falsos detentores de poder não deveriam determinar, por exemplo, quem pode ser mãe ou não. Não deveriam determinar como deve ser o tratamento dispensado a uma mulher ou homem trans. Não deveria ter o direito de dizer quem é a mulher da relação para a concessão da licença-maternidade. Enquanto houver mais concessão do que conscientização, o papai noel só irá existir no Natal.

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