Dia da Visibilidade Trans: Entre a Luta e a Resistência, um Chamado por Vida e Respeito
Por Maria Fernanda
Nesta quarta-feira (29), Dia Nacional da Visibilidade Trans, um novo levantamento da Rede Trans Brasil joga luz sobre uma realidade cruel e persistente: o Brasil segue, pelo 17º ano consecutivo, como o país que mais mata pessoas trans no mundo. Em 2024, foram registradas 105 mortes de pessoas trans e travestis, um número que, apesar de ser 14 casos menor que no ano anterior, ainda evidencia o profundo abismo da violência estrutural enfrentada por essa população.
O dossiê “Registro Nacional de Mortes de Pessoas Trans no Brasil em 2024: da Expectativa de Morte a um Olhar para a Presença Viva de Estudantes Trans na Educação Básica Brasileira”, que será lançado hoje, revela que 93% das vítimas eram mulheres trans e travestis. A maioria dos assassinatos ocorreu na região Nordeste, onde, segundo Nathália Vasconcellos, secretária da Região Centro-Oeste da Rede Trans Brasil, fatores culturais e o machismo enraizado contribuem para a violência: “Isso se dá também pelo desrespeito à identidade. A cultura nordestina é mais ferrenha em questão de masculinidade, o que potencializa a violência contra pessoas trans”.
O estudo também aponta que 66% dos casos ainda estavam em fase de investigação, enquanto apenas 34% tiveram suspeitos presos. Em 14 ocorrências, os agressores eram companheiros ou ex-companheiros das vítimas; em nove, tratava-se de clientes; e outros nove casos tinham possível relação com dívidas e organizações criminosas.
Visibilidade que Salva Vidas
Apesar do retrato alarmante, Nathália Vasconcellos reforça que a intenção da pesquisa é muito mais do que expor a dor e a perda. “Nosso intuito é chamar atenção para essa questão e levar esses dados para a construção de políticas públicas. A gente não quer ficar só no sofrimento, mas sim avançar para garantir que nossas vidas importam”, destaca.
A Rede Trans Brasil também integra a pesquisa global “Trans Murder Monitoring”, que acompanha os homicídios de pessoas trans em diversos países. Em 2024, o levantamento internacional contabilizou 350 assassinatos, reforçando o caráter epidêmico da transfobia.
No Dia da Visibilidade Trans, é necessário lembrar que resistir também é um ato político. Garantir dignidade, educação e segurança para a população trans não deve ser apenas uma pauta de militância, mas um compromisso de toda a sociedade. A existência trans não pode ser reduzida a estatísticas de morte, mas deve ser celebrada, protegida e respeitada em sua plenitude.
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